quinta-feira, 26 de abril de 2012

PORQUE ÚLTIMA FLOR DE LÁCIO LITERÁRIA?

PORQUE ÚLTIMA FLOR DE LÁCIO LITERÁRIA?
Porque "Última flor de Lácio"? Já dizia nosso Olavo Bilac "Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura". Com relação ao termo última flor de lácio posso dizer que é uma referência à nossa língua portuguesa, considerada a última das filhas do latim. Já a utilização do termo inculta e bela refere-se a todos que de uma maneira ou outra maltratam ou de vez em quando assassinam a Língua Portuguesa (quando falam ou escrevem errado) embora não possamos nunca deixar de nos render à beleza de nossa língua pátria. Já o termo Literária é intencionalmente usado porque é claro, não tem como não falar de literatura.
Inspirei-me nessa frase, pois, em meu trabalho de mestrado escrevi sobre os recursos literários intertextualidade, paródia, pastiche e a citação utilizados na obra Amar-te a ti nem sei se com carícias do escritor paranaense Wilson Bueno. Note-se que o título do livro enseja uma belíssima homenagem à nossa língua portuguesa (já que a frase Amar-te a ti nem sei se com carícias constitui nada mais nada menos que “um decassílabo perfeito para uma nação imperfeita”.)[1]
Bom, agora que vocês já sabem o porquê do nome para o nosso blogger, fica aqui um trechinho de uma entrevista[2] com o saudoso Wilson Bueno para que vocês quem sabe possam se encantar e ler alguma de suas obras.
Como surgiu a ideia para “Amar-te a ti nem sei se com carícias”, ou, para usarmos uma notação jamesiana, qual foi o “germe” deste seu romance?
WILSON BUENO: “Foi sempre o meu desejo, antes de mais nada, de prestar uma homenagem aos grandes formadores desta nossa última flor do Lácio “inculta e bela”, sobretudo os do século 19. Garret, Herculano, Fialho de Almeida (o grande e esquecido Fialho de Almeida...), Eça e, cá entre nós, este autêntico titã literário que é Machado de Assis. Mas ao mesmo tempo sempre me incomodou muitíssimo a nossa retórica bacharelesca. O Brasil é um país de retóricos e de bacharéis, no mau sentido da palavra. Vide os políticos, o modo como falam. A nossa elite é oca e tende a preencher os seus vazios-literais ou figurados- através da norma culta da língua, os vocábulos difíceis, as palavras suntuosas...Veja você que horror é o Ruy Barbosa, ainda hoje uma influência acachapante no linguajar de nossa elite. Assim, o “germe” de “Amar-te...” reflui para estas duas pontas-de um lado, a “reconstrução” de nossa língua literária, em seu nascedouro, em sua formação, e, de outro, um modo de lembrar o quanto a noite dos tempos soterrou poetrastos e bacharéis que, em seu dias de vivos, passearam a sua arrogância intelectual, as suas “verdades” que pensavam tão imortais e tão imorredouras quanto supunham fosse a sua obra e, claro, os seus nomes... Isso é e será sempre uma lição para o presente, não é mesmo?”
FICA AQUI O CONVITE PARA A LEITURA DE AMAR-TE A TI NEM SEI SE COM CARÍCIAS, UM ROMANCE A SER SORVIDO LENTAMENTE, UMA HOMENAGEM E AO MESMO TEMPO UMA SÁTIRA À NOSSA LÍNGUA INCULTA E BELA FALADA NOS OITOCENTOS.


[1] http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2484,1.shl
[2] Entrevista extraída do site http://pphp.uol.com.br/tropico/html/textos/2484,1.shl