PORQUE
ÚLTIMA FLOR DE LÁCIO LITERÁRIA?
Porque
"Última flor de Lácio"? Já dizia nosso Olavo Bilac "Última flor
do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura". Com
relação ao termo última flor de lácio posso dizer que é uma referência à
nossa língua portuguesa, considerada a última das filhas do latim. Já a
utilização do termo inculta e
bela refere-se a todos que de uma maneira ou outra maltratam ou de vez em quando assassinam a Língua Portuguesa (quando falam ou escrevem errado) embora não possamos nunca
deixar de nos render à beleza de nossa língua pátria. Já o termo Literária é intencionalmente usado porque é claro, não tem como não
falar de literatura.
Inspirei-me
nessa frase, pois, em meu trabalho de mestrado escrevi sobre os recursos literários intertextualidade,
paródia, pastiche e a citação utilizados na obra Amar-te
a ti nem sei se com carícias do escritor paranaense Wilson Bueno. Note-se
que o título do livro enseja uma belíssima homenagem à nossa língua portuguesa (já
que a frase Amar-te a ti nem sei se
com carícias constitui nada mais nada menos que “um decassílabo perfeito para
uma nação imperfeita”.)[1]
Bom,
agora que vocês já sabem o porquê do nome para o nosso blogger, fica aqui um
trechinho de uma entrevista[2]
com o saudoso Wilson Bueno para que vocês quem sabe possam se encantar e ler
alguma de suas obras.
Como
surgiu a ideia para “Amar-te a ti nem sei se com carícias”, ou, para usarmos
uma notação jamesiana, qual foi o “germe” deste seu romance?
WILSON BUENO: “Foi
sempre o meu desejo, antes de mais nada, de prestar uma homenagem aos grandes
formadores desta nossa última flor do Lácio “inculta e bela”, sobretudo os do
século 19. Garret, Herculano, Fialho de Almeida (o grande e esquecido Fialho de
Almeida...), Eça e, cá entre nós, este autêntico titã literário que é Machado
de Assis. Mas ao mesmo tempo sempre me incomodou muitíssimo a nossa retórica
bacharelesca. O Brasil é um país de retóricos e de bacharéis, no mau sentido da
palavra. Vide os políticos, o modo como falam. A nossa elite é oca e tende a
preencher os seus vazios-literais ou figurados- através da norma culta da
língua, os vocábulos difíceis, as palavras suntuosas...Veja você que horror é o
Ruy Barbosa, ainda hoje uma influência acachapante no linguajar de nossa elite.
Assim, o “germe” de “Amar-te...” reflui para estas duas pontas-de um lado, a
“reconstrução” de nossa língua literária, em seu nascedouro, em sua formação,
e, de outro, um modo de lembrar o quanto a noite dos tempos soterrou poetrastos
e bacharéis que, em seu dias de vivos, passearam a sua arrogância intelectual,
as suas “verdades” que pensavam tão imortais e tão imorredouras quanto supunham
fosse a sua obra e, claro, os seus nomes... Isso é e será sempre uma lição para
o presente, não é mesmo?”
FICA AQUI O CONVITE PARA A LEITURA DE AMAR-TE A TI NEM SEI SE COM CARÍCIAS, UM ROMANCE
A SER SORVIDO LENTAMENTE, UMA HOMENAGEM E AO MESMO TEMPO UMA SÁTIRA À NOSSA
LÍNGUA INCULTA E BELA FALADA NOS OITOCENTOS.